"Não tenho nada a ver com explosões, diz um verso de Sylvia Plath.
Eu li como se tivesse sido escrito por mim.
Também não faço muito barulho,ainda que seja no silêncio que nos arrebentamos.
Tampouco tenho a ver com o espaço sideral, com galáxias...
Preciso estar firmemente pousada sobre algo - ou alguém.
Abraços me seguram...e eu me agarro.
Tenho medo da falta de gravidade: solta demais me perco,
não vôo senão em sonhos.
Não tenho nada a ver com o mato, com o meio da selva,
com raízes que brotam do chão e me fazem tropeçar,
cair com o rosto sobre folhas e gravetos
feito uma fugitiva dos contos de fada, a saia rasgando pelo caminho,
a sensação de ser perseguida...
Não me sinto à vontade onde o sol tem dificuldade de entrar.
Prefiro praia, campo aberto, horizonte,
espaço pra correr em linha reta...ou para permanecer sem susto.
...não me envolvo com o que não me envolve...
Se é caso sério eu me dôo, se é bobagem eu me abstenho
Não tenho nada a ver com cenas de comerciais de TV,
sou um filme sueco, uma comédia britânica, um erro de adaptação,
um personagem que esquece a fala...
Nada tenho a ver com não gostar de mim.
Me aceito impura, me gosto com pecados, e há muito me perdoei.
Meu mundo se resume a palavras que me perfuram,
a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro,
a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem,
à constante perseguição do que ainda não sei.
Meu mundo se resume ao encontro do que é terra e fogo dentro de mim,
onde não me enxergo, mas me sinto.
Minto, tenho tudo a ver com explosões."
**Martha Medeiros**
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