O amor da minha vida eu encontrei, tem nome, 
é de carne e osso, e me ama também. 
Agora falta encontrar alguém com quem possa me relacionar. 
É que o homem da minha vida não cabe em mim e eu não caibo nele. 
Não basta que a gente se queira há muitos anos. 
Não basta nossos namoros longos, os rompimentos 
e a teimosia de desejar mais daquilo que não há de ser. 
Não presta que ele me visite pra acabar com as saudades 
e fuja correndo de pernas bambas e um bumbo no peito. 
Não importa que eu esqueça meu nome depois, 
nem que me perca num oco, 
ou que os sentimentos corram de ambos os lados, intensos e desarvorados. 
Não basta que haja amor para se viver um amor. 
Seus mistérios me perturbam e minha clareza o ofusca. 
Tenho fascínio pelo plutão que ele habita, e ele vive intrigado por minha vênus, 
mas quando eu falo vem, ele entende vai. 
Enquanto ele avista o mar eu olho pra montanha. 
Quando um se sente em paz o outro quer a guerra. 
É preciso me traduzir a cada centímetro do caminho 
enquanto ele explica que eu também não entendi nada. 
Discordamos sobre o tempo, o tamanho das ondas, a cor da cadeira. 
O desacerto é de lascar, 
e não há cama que resista a tantas reconciliações - um dia a cama cai.
**Maitê Proença**