"Hoje eu diria qualquer coisa se você telefonasse...
Por dentro também eu estava preparado para dizer,
um pouco porque eu não agüento mais ficar esperando toda hora você telefonar ou aparecer,
e quando você telefona ou aparece com aquelas maças
eu preciso me cuidar para não assustar você...
e quando você pergunta como estou,
mordo devagar uma das maçãs que você me traz
e cuido meus olhos para não me trairem e não te assustarem
e não ficarem querendo entrar demais no de dentro dos teus olhos...
então eu cuido devagar tudo que digo e todo movimento,
porque eu quero que você venha outras vezes
e eles dizem que se eu me mostrar como realmente sou
você vai ficar apavorado e nunca mais vai aparecer nem telefonar
— eu não agüento mais não me mostrar como sou."
**Cao Fernando de Abreu - in Carta para Além do Muro**
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