"...No anoitecer lacrimoso
Me permito estar sem perceber
Indo e vindo de um infinito ao outro
Manchando os horizontes...
Sorvendo o néctar da solidão
Num contraste distinto
Entre realidade e ilusão..."

**Sonia Pallone**

Teu Canto

Queria ser teu canto

Recanto,

A parede onde desalentado e escondido choras,

O teu muro das lamentações.

Ouvi-las todas,

Torná-las minhas.

E liberto de lágrimas e desalentos

Livre e leve de novo te sentirias.

E eu,

Canto

Recanto

Teu muro e parede,

Uma a uma choraria,

As tuas lágrimas por ti.

**Encandescente**

Quem roubou meu colar de sonhos?

Quem roubou as minhas cores?

O meu colar de pérolas de sonhos?

E as vestes de ilusão que vestia?

Quem me roubou os momentos

Em que rainha eu era de um mundo só meu?

Hoje vagueio andrajosa,

As vestes em farrapos,

Descalça de caminhos.

Procurando entre lixo e cacos

O meu colar de sonhos,

As minhas vestes de ilusão,

E os momentos em que entre cores e magia

De um mundo só meu eu era rainha.

Quem roubou o meu colar de sonhos?

**Encandescente**

Hoje estou muito delicada,

me interessam principalmente

flores e passarinhos.

*Clarice Lispector*

Canção para um Desencontro

Deixa-me errar alguma vez,

porque também sou isso: incerta e dura,

e ansiosa de não te perder agora que entrevejo um horizonte.

Deixa-me errar e me compreende

porque se faço mal é por querer-te

desta maneira tola, e tonta, eternamente

recomeçando a cada dia como num descobrimento

dos teus territórios de carne e sonho,

dos teus desvãos de música ou vôo, teus sótãos e porões

e dessa escadaria de tua alma.

Deixa-me errar mas não me soltes

para que eu não me perca deste tênue fio de alegria

dos sustos do amor que se repetem

enquanto houver entre nós essa magia.

Lya Luft